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Vinte anos se passaram entre a última vinda do Midnight Oil às terras brasileiras e a “The Great Circle” tour que marcou o retorno do grupo australiano aos palcos após o hiato iniciado em 2002. Após alguns “shows secretos” de aquecimento e uma primeira apresentação em seu país, a banda chegou ao Brasil para os primeiros shows da sua turnê mundial de retorno.

O momento no qual Peter Garrett e companhia não deixa de ser curioso, já que a banda é conhecida por canções de protestos. Ainda que relacionados à questões da Austrália, alguns dos assuntos são universais como questões de respeito à natureza ou de realocação e remoção de tribos indígenas de seus locais de origem em nome do “progresso”. E, em meio a uma greve geral no qual grande parte do país parou contra reformas que o prejudicarão, é talvez até triste notar como as letras de diversas canções ainda soam atuais.

Quinze anos de pausa simplesmente não afetaram o grupo que, ao contrário de muitas bandas atualmentes, tem seu repertório tão bem preparado e conhecido que é capaz de alterá-lo toda noite e por isso quem tentou descobrir quais seriam as possíveis músicas tocadas já foi surpreendido logo de cara com “Blue Sky Mine” abrindo a noite. E ali estava a banda, afiadíssima, e Garrett que aos seus 64 anos mantém sua voz e vitalidade com todas as suas dancinhas curiosas e trejeitos ao cantar.

Bem político também, trabalho no qual teve experiência na Austrália durante a pausa da banda, ele tentou por diversas vezes se comunicar em português com o público até que acabou por desistir mas não antes de agradecer a presença de todos ali e desculpas pela espera. E em seu pique, chegou a sentar no palco para cantar perto dos fãs e descer para cumprimentar os que estavam ali na grade.

Com a mesma formação desde 1987, a banda despejou então todo o seu arsenal musical como a pesada “Redneck Wonderland” ou a dançante “King of the Mountain”. E ali, na plateia formada majoritariamente por pessoas acima dos seus 30 anos, não houve quem não esboçasse um sorrisso aqui ou arriscasse seus passos ali. E também havia as gerações, com pais que levaram seus filhos para conhecer o grupo. E se essa foi a introdução desses jovens ao mundo dos shows, foi feita com grande estilo.

Ao meio da apresentação, um pequeno set acústico onde Garrett pediu que as pessoas o ajudassem a cantar uma das canções, ou ao menos suas notas do piano e então a melodia de “My Country” é executada para empolgação de todos. Desde o retorno, o grupo não havia tocado ainda essa música, sendo então a primeira apresentação dela em mais de uma década.

The Dead Heart” e “Beds Are Burning” foram tocadas após o set acústico levando o Espaço das Américas ao êxtase, mas não foram as responsáveis por terminar a noite que terminou com o bis de “Put Down That Weapon”, “Now or Never Land” e “Sometimes”.

E assim, encerrada a noite nostálgica, foi a hora de todos de voltar para a realidade onde o futuro ainda estava incerto e sobre a qual os temas de muitas músicas tocadas ali ainda soavam atuais. “Como dormir enquanto as camas estão queimando?” poderia ser uma pergunta a ser feita naquele momento, mas uma certeza havia, o mundo precisa de mais bandas como o Midnight Oil para ajudar a exteriorizar as revoltas e indignações e alimentar um pensamento crítico inexistente atualmente. Enquanto não surge algo assim, bem vindos de volta!

Setlist – Midnight Oil @ Espaço das Américas

Blue Sky Mine
Truganini
Too Much Sunshine
Redneck Wonderland
Under the Overpass
King of the Mountain
Short Memory
Earth and Sun and Moon
Power and the Passion
Antarctica
Only the Strong
Arctic World
Warakurna
Dreamworld
My Country (piano)
When the Generals Talk (acústica)
Luritja Way (acústica)
US Forces (acústica)
The Dead Heart
Beds Are Burning
Read About It
Forgotten Years

Bis:
Put Down That Weapon
Now or Never Land
Sometimes