Meio século é tempo mais que o suficiente para uma infinidade de coisas acontecem. Da segunda metade do século XX até o final da segunda década do século XXI, a humanidade ressurgiu de uma guerra, levou homens à Lua, enfrentou novas doenças, criou e perdeu ídolos e avançou, ainda que a ameaça de voltar a Idade Média ainda exista. Diversos acontecimentos que foram testemunhados por mais de uma geração enquanto esperavam um fato acontecer: o The Who pisar no Brasil.

Não havia uma explicação lógica, mas não deixa de ser irônico que a primeira música tocada pela banda britânica no país tenha sido “I Can’t Explain” iniciada com o movimento característico de girar o braço de Pete Townsend. Dali, pelas próximas 19 músicas que se seguiram, ele e Roger Daltrey apresentaram praticamente todas as músicas que o público esperava sem pausas para muita interação com o público, exceto por Townsend mandando um olá para São Paulo e dizendo que estava feliz pela primeira vez em tocar aqui.

Não havia necessidade de reforçar o status de histórico do show. A reação das pessoas das mais diversas idades deixava no ar a noção exata do quão especial era o momento. Todos ali sabiam e respiravam isso. Entre pausas, gritos e canções como “The Seeker”, “My Generation”, “Behind Blue Eyes”, “Pinball Wizard” e outras a história ia sendo construída em São Paulo.

Os acordes da guitarra de Townsend e a bateria sendo espancada meticulosamente por Zak Starkey, filho de Ringo Starr e afilhado de Keith Moon, eram a engrenagem que movia toda a apresentação completada pela voz de Daltrey e as belas imagens nos telões, que incluíram fotos dos falecidos Moon e John Entwistle com destaque para a sequência visual durante “The Rock” que mostrou diversas cenas históricas da humanidade dos últimos 50 anos envolvendo guerras, fatos históricos e líderes como Nixon, Clinton e a Princesa Diana culminando com o 11 de setembro.

Os músicos não são os mesmos, afinal a voz de Daltrey não vai ser a mesma 50 anos depois e nem a energia de Townsend. Ninguém exigiria isso deles, e ainda assim, ambos entregaram ao público uma empolgação inimaginável vinda de senhores que passaram dos 70 anos e que por 50 anos fizeram a trilha sonora da vida de muitas pessoas. O que mantem viva uma canção é a identificação dos fãs com ela, e com temas de sentimentos e rebelião juvenil não há como em algum momento da vida de uma pessoa, seja ela com 20 ou com 50 anos, haver um reconhecimento de si nos temas de quase toda a discografia do grupo.

Se o The Who irá voltar, ninguém sabe. Essa foi a primeira vez do grupo e talvez, a última. E se essa apresentação for a memória a ser levada deles, é daquelas que ainda arrancarão lágrimas daqui a outros 50 anos nos que estiverem vivos com essa lembrança.

Setlist The Who

I Can’t Explain
The Seeker
Who Are You
The Kids Are Alright
I Can See for Miles
My Generation
Bargain
Behind Blue Eyes
Join Together
You Better You Bet
I’m One
The Rock
Love, Reign O’er Me
Eminence Front
Amazing Journey
Sparks
Pinball Wizard
See Me Feel Me
Baba O’Riley
Won’t Get Fooled Again

Bis:
5:15
Substitute