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Na informalidade, cult é um termo que define aquilo que é alternativo e não se enquadra no “comum”. Ele vale para as artes, principalmente o cinema, a literatura e claro, a música. Desde o seu surgimento em 2014, o Overload Music Fest, iniciativa da produtora Overload se destaca no cenário brasileiro, e sul-americano, por trazer nomes inéditos e alternativos dentre as vertentes do rock.

Em sua quarta edição, o evento aconteceu novamente no Carioca Club em São Paulo e contou com um lineup formado totalmente por atrações inéditas de quatro países: John Haughm (Estados Unidos), Les Discrets (França), Sólstafir (Islândia) e Enslaved (Noruega).

Paralelamente aos shows, houve exposição dos trabalhos gráficos de Fursy Teyssier (Les Discrets) que estavam à venda, além de merchandising das bandas que se esgotou rapidamente. Em alguns casos isso aconteceu porque o material que os grupos trouxeram foi todo comprado por fãs dos países por onde as bandas passaram antes de chegar à São Paulo. Durante as apresentações, as bandas foram se revezando no meet and greet organizado de forma gratuita com os fãs na área externa do evento.

As atividades paralelas, incluindo a parte de alimentação, estavam melhores organizadas que na edição anterior, tanto pela forma como foram dispostas como pela quantidade de público menor. Os sons do grupo e os horários estiveram redondos. O pequeno atraso que houve no final se deve ao fato do Les Discrets ter passado um pouco do horário mas nada que fosse muito grave ainda mais considerando-se a logística do palco não muito grande do Carioca Club e que eram 4 bandas com sets distintos.

Confira a galeria de fotos completa do festival.

John Haughm

Com as honras da abertura do evento, o guitarrista John Haughm levou ao palco do festival apenas canções de sua carreira solo, o que acabou deixando um pouco frustrados aqueles que esperariam por alguma surpresa envolvendo suas bandas Pillorian e Agalloch. Porém tal fato já havia sido divulgado de forma que alguns apenas torciam por uma surpresa.

De sobretudo, óculos escuros e chapéu, Haughm lembrava um tipo de cowboy saído de alguma obra de literatura western steampunk como o RPG “Deadlands”. Com sua guitarra e pedais, produziu ali uma trilha sonora densa, sombria tal como ele se define: um arquiteto de sons que produz trilhas sonoras para um velho oeste abstrato e isso é o que foi executado no palco. Riffs lentos e camadas de sons com o auxilio dos pedais produziam um som ambiente de um cenário desloado e antigo com toques de tecnologia que ganhava corpo com a iluminação e fumaça no palco.

Nem todos talvez compreenderam a obra sonora ali apresentada pois nela não haviam interações com a plateia como esperado de um show. Era arte em seu estado mais experimental e abstrato que não soa fácil a todos de uma forma compreensível. Sem se dirigir ao público, John encerrou seu set e passou a circular pelo evento atendendo fãs no meet and greet na área externa do festival.

Les Discrets

A segunda atração da noite era uma das mais esperadas pelo público do festival nos últimos anos. Sempre presentes em enquetes e comentários, o Les Discrets veio em turnê de divulgação de seu terceiro disco, o álbum “Prédateurs”, porém não deixando os materiais dos outros discos de fora do setlist.

Sem muitas interações, exceto as mais corriqueiras com o público, os franceses conseguiram reproduzir ao vivo a atmosfera, ora melancólica ora soturna, de seus discos, envolvendo a plateia que acompanhava à sua maneira cada sonoridade ali produzida no palco. Todos de alguma forma, se deixando levar pelas melodias das guitarras de Fursy Teyssier, que estava visivelmente animado por estar tocando no Brasil.

Ao vivo, o grupo não apresentou com teclados, mas isso não comprometeu em nada as execuções das canções, inclusive dando a elas um peso extra que ajudou a construir todo o clima que o grupo transmite com suas músicas. E estourando um pouquinho o tempo destinado à apresentação, o Les Discrets saiu ovacionado pelos presentes.

Setlist Les Discrets:

L’Échappée
Les feuilles de l’olivier
Le Reproche
Virée Nocturne
Le Mouvement perpétuel
Chanson d’automne
Après l’ombre
La nuit muette
La traversée
Song for Mountains

Sólstafir

Diretamente da Islândia, o Sólstafir era um dos responsáveis pela presença da maioria das pessoas no evento. Muito esperados, o grupo aproveitou a vinda ao festival para emendar sua primeira tour sul-americana transmitindo toda a empolgação que estavam por finalmente estarem cruzando o oceano para se apresentar por esses lados.

E a recepção dos presentes era a mesma para com a banda. Diversas pessoas chegaram até a cantar em islandês as faixas do grupo demonstrando o quão empolgadas estavam com o show. A sonoridade do grupo ganha corpo ao vivo, ainda mais com as interações do vocalista e guitarrista Aðalbjörn “Addi” Tryggvason que se entrega à apresentação com uma energia contagiante com sua guitarra se ajoelhando durante solos ou levantando-a no ar como se ela e ele fossem uma coisa única. E se entrega ao público também pois ele chegou a subir na grade da pista para cantar e até tirar selfies com os fãs ali presentes formando um momento único e empolgante da história do festival.

A julgar pela receptividade dos fãs e alegria da banda, não deve demorar muito para que o Sólstafir volte para esses lados, dessa vez talvez com direito a um show completo. E alguns fãs ainda puderam conversar com os músicos fora do meet and greet já que durante a apresentação do Enslaved alguns dos músicos circularam pela area de merchandising autografando discos atendendo fãs.

Setlist Sólstafir

Silfur-Refur
Ótta
Náttmál
Ísafold
Djákninn
Fjara
Svartir Sandar
Goddess of the Ages

Enslaved

Fechando a noite, o Enslaved surgiu no palco para por fim a espera de mais de 20 anos pelo grupo. Dentre diversos nomes do metal extremo, os noruegueses eram um dos poucos que ainda não haviam passado pelos palcos brasileiros. Ainda que tenham começado dentro da cena de bandas do black metal norueguês, o Enslaved desde o começo se destacou por ir além daquela sonoridade sempre buscando novas inspirações para o seu som que, ao longo dos anos começou a receber elementos mais progressivos e de temas nórdicos, sendo os responsáveis ao lado do Bathory, por impulsionar o tema no heavy metal na década de 90.

Por ser a primeira vez em terras brasileiras, o setlist trouxe quase que uma faixa de cada disco incluindo material do primeiro álbum, as faixas “Vetrarnótt” e “Heimdallr” para a surpresa e alegria dos fãs. Ao vivo, o grupo é brutal e preciso, soando redondo sem embolar o som ainda que com diversas passagens rápidas e pesadas.

Da abertura com “Ruun” ao encerramento com “Slaget i skogen bortenfor” o Enslaved guiou os fãs a uma viagem por mais de 20 anos de música demonstrando toda sua evolução, mostrando que, ir além da sonoridade padrão pode resultar em uma discografia diversa e coesa, além de provar o porque são uma das mais importantes bandas de metal extremo da história do estilo.

Com o final da apresentação, os fãs puderam ficar mais um tempo na casa, ainda encontrando músicos pelo local já que essa foi a primeira vez que o Carioca Club não teve eventos no sábado além de um show de heavy metal. A quarta edição do Overload Music Fest demonstrou mais uma vez que, há um público ávido por presenciar shows de bandas que são mais alternativas dentro do estilo que muitas vezes soa irredutível a experimentalismos e mudanças, e também que cativou o seu lugar no calendário dos eventos da cidade com um público fiel. Fato esse comprovado pela quantidade de fãs circulando com camisetas das edições anteriores do festival e já discutindo quais seriam os possíveis nomes que gostariam de ver no futuro.

Setlist Enslaved

Ruun
Death in the Eyes of Dawn
Ground
Ethica Odini
One Thousand Years of Rain
Heimdallr
Vetrarnótt
Allfǫðr Oðinn
Isa

Bis:
Slaget i skogen bortenfor