Após a controversa passagem pelo festival Rock In Rio, havia uma certa expectativa sobre como seria o show do grupo em São Paulo encerrando o São Paulo Trip. A principal dúvida: Axl viria mas e sua voz? O ponto mais delicado é claro. O som do Rock in Rio não parece ajudar. A transmissão pela televisão regularmente se mostra ruim com diversas reclamações por quem assiste e, alguns presentes que foram ver o grupo na cidade carioca relataram que toda a parte sonora não estava 100% no local. Um tipo de relato que não foi visto em relação ao festival paulista.

Para os fãs, ele é alguém que envelheceu, passou dos 50 e sofreu um desgaste ainda mais pela forma com a qual cantava na década de 90. O que é em parte verdade, mas tivemos Steven Tyler (69 anos) e Roger Daltrey (72 anos) demonstrando no festival que dá pra levar um show. Sem contar outros exemplos como Rob Halford (66 anos) que força bem nos agudos até hoje. Analisando friamente, sim a voz dele falhou por diversos momentos (algo esperado) mas não foi a tragédia prevista.

Porém, a apresentação do Guns N’ Roses tem um pequeno detalhe: é sempre longa. Eles sempre fizeram sets compridos, cheios de solos e covers desde a década de 90 mas talvez seja a hora de rever um pouco isso. Afinal em diversos momentos era possível ver fãs dispersos entre intermináveis solos e versões. Um show de 2h30 enxuto, direto e dinâmico pode ser tão memorável quanto um de 3h30. Menos é mais em certos momentos. A duração acaba sendo prejudicial a alguns fãs que são obrigados a deixarem o local antes do final se dependem de transporte público, ainda mais no meio da semana.

Abrindo com “It’s So Easy” e seguindo em um bom ritmo até “You Could Be Mine” o Guns entrou já com diversos clássicos e canções do disco “Chinese Democracy” mantendo um show empolgante. Porém, a partir dai a dinâmica tinha altos como a trinca “Civil War”, “Yesterdays”, “Coma” e baixos como os solos e covers, sendo a única justificável a versão de “Wish You Were Here” que desvia a atenção para Slash e Richard Fortus em cima da bateria enquanto os técnicos montam o piano para “November Rain” que foi sucedida por “Black Hole Sun”, cover do Soundgarden e homenagem a Chris Cornell.

Por melhores que sejam as intenções, a versão do Guns não ficou boa. A voz de Axl não combinou e faltou algo que Chris era capaz de dar àquela letra. Dentre todos os artistas que homenagearam o falecido músico, talvez a mais bela versão seja a que Norah Jones fez somente de piano e voz.

A essa altura, a apresentação que começou com 15 minutos de atraso já estava chegando a três horas e uma quantidade interminável de solos em “Knockin’ on Heaven’s Door” fez com que diversos fãs começassem a deixar o local para conseguirem chegar em casa e inteiros para trabalhar no dia seguinte. Claro que o grupo ainda tinha canções para executar como “Patience” e “Paradise City” que encerrou a apresentação quase meia hora depois.

Não chega a ser um péssimo show como muitos esperavam mas para muitos, a nostalgia em ver Slash, Axl e Duff juntos novamente acaba ofuscando a atenção para esses pequenos detalhes que, ajustados, poderiam tornar o show mais dinâmico sem oscilar em altos e baixos. Mas o saldo final de ver o grupo em sua formação quase original acaba elevando a nota na memória dos fãs.

Setlist Guns N’ Roses

It’s So Easy
Mr. Brownstone
Chinese Democracy
Welcome to the Jungle
Double Talkin’ Jive
Better
Estranged
Live and Let Die (Wings cover)
Rocket Queen
You Could Be Mine
New Rose (The Damned cover)
This I Love
Civil War
Yesterdays
Coma
Slash Guitar Solo
Speak Softly Love (Love Theme From The Godfather) (Nino Rota cover)
Sweet Child O’ Mine
Wichita Lineman (Jimmy Webb cover)
Used to Love Her
My Michelle
Wish You Were Here (Pink Floyd cover)
November Rain
Black Hole Sun (Soundgarden cover)
Knockin’ on Heaven’s Door (Bob Dylan cover)
I Got You (I Feel Good) (James Brown cover)
Nightrain

Bis:
Don’t Cry
Patience
The Seeker (The Who cover)
Paradise City