Cena de ‘Till – A Busca Pela Justiça’

Em 1955, Emmett Till era apenas uma criança negra de 14 anos em uma viagem de férias no Mississipi quando foi sequestrado e brutalmente linchado até a morte por dois homens brancos sob a alegação de que o jovem havia assediado a esposa de um deles em uma loja.

Casos como esse não eram pontuais nesse período nos Estados Unidos, não que hoje em dia deixaram de ser – basta lembrar do recente assassinato de George Floyd por exemplo -, e sim comuns a ponto de mais de 4000 pessoas negras terem sido linchadas entre 1870 e 1950. Dentre eles, o caso do jovem Till (interpretado por Jalyn Hall) ganhou notoriedade devido ao destaque que teve na época e a luta de sua mãe, Mamie Till-Mobley em busca de justiça pelo seu filho e é em homenagem à sua memória que o filme ‘Till – Em Busca da Justiça’, que chega aos cinemas brasileiros em 09 de fevereiro, é dedicado.

Interpretada com maestria por Danielle Deadwyle, acompanhamos a mãe de Emmett, Mamie Till-Mobley, desde momentos antes da viagem de seu filho até o subsequente julgamento do caso. Não é uma película que busca esclarecer os fatos, inventar uma nova forma narrativa de expor acontecimentos ou apresentar uma resolução ao crime e sim narrar a dor e luta de uma mãe após a violência cometida contra seu filho e para isso o filme não poupa em alguns momentos, como o momento em que Mamie recebe o caixão de seu filho e resolve por um velório com ele aberto de forma que possa expor toda a brutalidade cometida.

Danielle Deadwyle em cena de ‘Till – A Busca pela Justiça’

São cenas feitas para incomodar, com closes que geram revolta, dor ou ambos. Uma decisão acertada da diretora Chinonye Chukwu em explorar esses enquadramentos junto da cinematografia de Bobby Bukowski, assim como um belo trabalho de reconstrução da época, não só no figurino e cenografia como em momentos reais tal qual a exposição do corpo de Till. Uma busca no Google e as fotos originais podem ser encontradas e sim, são pesadas.

Não há como não sair do filme com um gosto amargo, e se esse é o objetivo do filme, ele acerta em cheio. É para ser um incomodo cenas que relembram que praticamente ontem (afinal o filme se passa a menos de 70 anos atrás) havia a segregação em trens, o diferente trato em tribunais (onde negros são revistados e largados em pé enquanto brancos entram sem obstruções e tem assentos à vontade) ou desprezo que recebiam como descrito pelo tio de Till (interpretado por John Douglas Thompson) sobre a noite do crime: ‘não eram somente dois homens com armas naquela noite. Era cada homem branco que preferia ver um homem negro morto do que respirando o mesmo ar que ele’.

Quem não conhece a história é fadado a repeti-la, e quem não assume seus erros continuará errando. E é isso que o filme acerta: fatos que não devem ser deixados de lado ainda que extremamente dolorosos. Mesmo que em certos momentos filmes sobre tragédias possam até parecer saturar, eles são necessários. A morte de Till reforçou a luta por Direitos Civis nos Estados Unidos nos anos seguintes e tardiamente, seu nome deu nome a uma lei anti-linchamento no país, assinada por Joe Biden apenas em 2022, 67 anos após o crime.

Confira o trailer: