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Filmes de origem seguem toda uma receita padrão com passos explorados em tantos filmes que a fórmula pode se encontrar esgotada ainda que seja a primeira aparição de algum personagem dos quadrinhos nas telas do cinema. Esse é o caso de Besouro Azul, longa que chega também em um momento ‘confuso’ de mudanças no Universo Cinematográfico da DC.

O filme de Angel Manuel Soto apresenta o ‘primeiro herói do novo universo DC’, ainda que não seja o primeiro filme oficial desse novo cenário, de acordo com James Gunn. Isso também acaba sendo vantajoso pois permite que o filme seja mais livre e contido em si, sem grandes pretensões de plantar sementes de milhares de referências para um gigantesco multiverso, outra fórmula bem esgotada. Claro que referências e easter eggs a alguns personagens se encontram ali, mas nada que force o espectador a ter assistido 20 filmes e sabe-se lá quantos episódios de séries para compreender a trama, esta aliás, bem simples e prática.

Jaime Reyes (Xolo Maridueña) é o jovem de bom coração que retorna à casa dos pais após se formar e encontra sua família em dificuldades. Apoiado por eles, parte em busca de oportunidades e seu caminho se cruza com Jenny Kord (Bruna Marquezine) que entrega a ele um misterioso escaravelho azul que seria usado por Victoria Kord (Susan Sarandon) para fins militares. O objeto escolhe Jaime e lhe concede uma armadura tecnológica que o transforma em um super heroi, ainda que ele seja relutante quanto a isso. Agora, com essa responsabilidade, Jaime precisa encontrar seu propósito e claro, impedir Victoria. E com a ajuda de Jenny e de sua família.

Tramas como essa existem aos montes, mas como toda receita a forma como se usa e se temepera os ingredientes é que faz a diferença. Um arroz com feijão pode ser muito agradável se bem feito e é isso que o longa consegue fazer, mesmo que possa escorregar aqui e ali em algum cgi meio ‘falso’ ou um começo um pouco arrastado. A parte técnica visual e sonora é competente. E o tempero que faz a diferença aqui é o elenco.

De todos os atores, o ponto mais sem sal é a vilã Victoria. Não é culpa de Susan Sarandon pois todos sabemos do seu talento. Mas não há muito o que ela pode fazer com uma personagem cuja profundidade não supera um pires cujos motivos são basicamente ‘eu merecia ser a herdeira mas não deixaram, agora que sou vou sair da gentrificação para a criação de armas em massa’, a não ser que ela ligasse um ‘modo Alan Rickman em Robin Hood’. Em compensação, Xolo nos encanta logo que surge em cena e carrega o filme muito bem e Bruna também o faz tanto nas cenas de ação quanto dramáticas de sua personagem, sendo mais que uma ‘dama em perigo’ demonstrando muita química com seu colega de elenco.

Porém quem rouba muitas cenas é a família de Jaime: sua irmã Milagro (Belissa Escobedo), seu pai Alberto (Damian Alcázar), sua mãe Rocio (Elpidia Carrillo), sua avó Nana (Adriana Barrazza) e seu tio Rudy (George Lopez). Em algum momento algum comentário, ação ou mesmo cena familiar vai funcionar pois todos brilham ao dar forma ao núcleo familiar e base de Jaime em sua jornada de descoberta e mudança. Por serem uma família de mexicanos e descendentes, muitas referências que citam ou comportamentos serão facilmente reconhecidos pela audiência latina, incluindo citações a duas grandes obras televisivas mexicanas que também tiveram um grande sucesso no Brasil que arrancaram boas risadas dos presentes no cinema. Não fosse por eles, o filme com certeza seria mais sem graça.

No resultado final, Besouro Azul não vai mudar os cinemas, não vai entregar nada de muito excepcional mas cumpre bem ao entregar o básico bem feito de forma geral e introduzindo o primeiro super heroi latino da DC nas telas, mesmo que isso já devesse ter sido feito há muito tempo. Nem sempre há a necessidade de uma super trama complexa com diversas sementes plantadas para um mega multiverso de tramas em uma chuva de easter eggs. Um filme simples começo-meio-fim com só uma pontinha pendente numa cena pós créditos (o filme tem duas) está ótimo e pode entreter por duas horas.

Besouro Azul chega aos cinemas brasileiros em 17 de agosto. Confira o trailer: