Foto: Mariana Vianna

Durante uma tentativa de assalto, a filha da advogada Carla (Claudia Abreu) é atingida por um disparo e entra em um coma profundo com pouquíssimas chances de recuperação. Tal ato de violência, vira a vida da personagem do avesso e a leva em busca de forças e formas de lidar com a dor e o trauma do ocorrido.

Com essa premissa, o longa de Marcos Bernstein passa a acompanhar essa jornada que envolve sessões de terapia e uma busca por justiça. Aqui o filme poderia cair em dois pontos: um drama forte pessoal ou um filme de justiça com as próprias mãos no estilo ‘Desejo de Matar’ mas opta por trilhar um caminho entre ambos tendo contrapontos com personagens como Natália, a terapeuta intepretada por Júlia Lemmertz que tem um grupo no qual busca ajudar diversas pessoas vítimas da violência a lidar com suas dores e o advogado Miranda (Alexandre Borges), colega de Carla que buscou na posse de arma sua solução para um ato violento pelo qual passou.

Esse debate sobre justiça com as próprias mãos ou não ganha força com as recentes mudanças nas leis de porte de armas, as quais foram facilitadas durante o governo Bolsonaro, incentivador das mesmas, e revistas já no início do governo Lula. Esse debate acaba levantando opiniões políticas onde cada espectador dependendo do espectro político reagirá de forma diferente ao desenrolar da trama onde Carla, ao não encontrar amparo da justiça, passa a buscar uma solução própria.

A personagem parte em uma jornada atrás não só do atidador como dos responsáveis por aquela arma chegar a tal lugar e hora enquanto também frequenta as sessões de terapia nas quais é questionada até que ponto irá levar sua busca e o quanto escalar a resposta da violência realmente há de resolver os problemas e apaziguar sua dor. Nesse ponto, as atuações de Claudia Abreu e Júlia Lemmertz são impecáveis em todas suas cenas carregando a trama e os dilemas da jornada de Carla que entra em uma espiral cada vez mais angustiante para amenizar sua dor e acaba por arrastar Natália em sua trajetória.

O filme não busca empatia para com Carla, não glorificando suas ações e também não condenando totalmente. Isso fica a cargo do espectador que acompanha em uma  montagem que vai e volta em flashbacks que pode ser um pouco confusa mas que reflete o caos na mente da personagem até o final. Caos e angústia também reforçadas pelas cores com menos saturação e sombras utilizadas no filme que causam uma sensação de perigo constante rondando os personagens como se a violência em torno sufocasse todas as coisas boas.

O Ato I termina deixando esse questionamento no ar: até que ponto uma pessoa iria para apaziguar a sua dor diante de tamanha violência ou como ela lidaria com tal ocorrido, de quem é a culpa ou todos são vítimas de um sistema falido. Se essas respostas virão nos atos seguintes, só o tempo dirá.

Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança estreia nesta quinta (17) nos cinemas brasileiros. Confira o trailer: