Continuação do ganhador de seis Oscar, Duna: Parte Dois continua a jornada de Paul Atreides (Timothée Chalamet) agora em busca de vingança e de um caminho para si após a chacina de sua família e amigos em uma conspiração que os levou de seu planeta natal até Arrakis, planeta desértico e de interesse vital para a galáxia sob o comando do Império.

Sem a necessidade de introduzir personagens, costumes e cultura do universo, a segunda parte de Duna acaba tendo um  andamento melhorado em comparação ao primeiro, o qual pode era levemente arrastado, crescendo lentamente até que, quando parece que a narrativa irá deslanchar, acaba. Isso não tinha como ser muito evitado já que o início do livro de Frank Herbert tem a mesma dinâmica. Mas é exatamente toda essa construção bem feita, sem pressa, que permite que na sequência, a narrativa avance em um ritmo impressionante e que prende o espectador ao longo das mais de 2h40 de filme.

Partindo de pouco tempo do final da primeira parte, temos Paul e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson) integrados à tribo Fremen liderada por Stilgar (Javier Bardem) e na qual está Chani (Zendaya). Enquanto Lady Jessica segue um plano para si e para seu filho, traçado há eras pelas Bene Gesserit, Paul se aproxima de Chani e começa a se dividir sobre qual caminho quer para si. Agora aparecendo mais do que na primeira parte, Chani pode ser mais explocada, assim como Stilgar de forma que o planeta desértico ganha mais vida e camadas, se tornando mais vivo apesar da aparência.

A fé dos Fremen é demonstrada e questionada pelos personagens que tem seus motivos para serem assim. Enquanto uns veem Paul como seu messias prometido, outros questionam esse acontecimento e conflitos vão surgindo enquanto as cordas disso são manipuladas pelas Bene Gesserit tanto em Arrakis quanto na família Harkonnen e no palácio imperial. Para isso, o diretor Denis Villeneuve usa e abusa da grandiosidade tanto visual quanto sonora para narrar uma história de opressão, fé e manipulação que remete a tantos conflitos atuais do nosso próprio planeta.

Desde as cenas desérticas, acompanhadas pela magistral trilha sonora de Hans Zimmer às cenas filmadas em infravermelho, que criam um visual estonteante na casa Harkonnen, a grandiosidade do longa nunca se torna exagerada e está sempre na dose correta para apoiar a narrativa e jamais tentando ser mais que a história, seus personagens e diálogos. É sim um filme-espetáculo mas sem cenas vazias apenas visualmente belas, assim como é um filme político e filosófico sem soar maçante. Praticamente uma aula de como se fazer cinema mostrando que uma opulência visual pode sim ser recheada com conteúdo e não apenas descartável.

Mesmo com diversas subtramas, indo da introdução do psicótico Feyd-Rautha Harkonnen (Austin Butler em uma interpretação magistral) e seu deslocamento para Arrakis, ao caminho de Paul e Lady Jessica pelo planeta com reencontros e novos personagens, passando pelo Imperador, interpredado por Christopher Walken, todas tem seu momento de brilho e são amarradas de forma excepcional pelo roteiro. Cada personagem tem seu destaque e importâncias devidas mesmo que tenham pouco tempo de tela como o Imperador ou a irmã de Paul, Alia, que no ventre de sua mãe já se comunica com ela e seu irmão.

Quando a ficção científica é bem utilizada para levantar debates da realidade através da fantasia, ela nos brinda com clássicos do cinema como Blade Runner ou Matrix, que deixam sua marca e impacto na história – mesmo que nem sempre no momento do lançamento como Blade Runner – e é nesse hall que Duna: Parte Dois está inserido a partir de sua estreia, porém em uma escala imponente não vista nas telonas desde ‘O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei’, sendo assim o épico de uma geração e com certeza, um dos melhores filmes do século.

Duna: Parte Dois chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 29 de fevereiro. Confira o trailer: